De quem é a culpa?

De quem é a culpa?

 

Acompanhe a leitura de uma história fictícia e posicione-se diante dos fatos.

Uma família de seis pessoas: pai, mãe e quatro filhos, de condição social desfavorecida, encontra-se com um dos filhos doentes. Os pais dirigem-se para o posto de saúde, levando o filho doente, e lá se deparam com um movimento grevista, dos funcionários da saúde, que reivindicam melhorias salariais e, principalmente, melhores condições de trabalho.

Os pais, percebendo que não seriam atendidos, dirigem-se para o hospital mais próximo, cerca de noventa minutos de ônibus. Enquanto isso agrava o estado de saúde do filho doente. Ele passa mal, tendo ânsias de vômitos, chegando a vomitar sangue. A criança de seis anos, no caminho para o hospital, piora cada vez mais, provocando ansiedade e preocupação nos pais.

Depois da longa jornada de ônibus, a família chega ao hospital. O desespero toma conta dos pais quando ali são comunicados de que, também neste hospital, os funcionários da saúde encontram-se em movimento grevista. A criança piora; o pai se desespera, protesta com veemência e até com violência. Seguranças do hospital o detêm e o encaminha para a polícia. Enquanto isso, a mãe, desesperada com os acontecimentos, percebe que seu filho não responde mais ao seu chamado. Na confusão da fila do hospital, a criança morre nos braços dela sem nenhum atendimento.

Em outro ponto da cidade, em outro momento, vários médicos, enfermeiros e funcionários se reúnem em assembléia para analisarem os indicativos de greve sugeridos pelo sindicato. Todos ponderam sobre os salários defasados e os seis meses de atraso, analisam ainda o pouco caso das autoridades com a saúde, que não disponibilizam verbas necessárias para a manutenção mínima dos postos de saúde e dos hospitais. Depois de várias tentativas de negociação com o Estado, os funcionários decidem pela paralisação do atendimento médico e ambulatorial, cumprindo-se o que a lei determina, preservando o atendimento de urgência.

No hospital onde a criança faleceu, o único médico para atendimento de emergência encontrava-se assoberbado de trabalho e somente ficou sabendo do acontecido quando já não tinha mais o que fazer.

A imprensa, que acompanhava o desenrolar da greve dos funcionários de saúde, presenciou o falecimento da criança e, obviamente, o noticiou com todo o alarde, levantando o questionamento: quem seria o responsável pela tragédia acontecida?